terça-feira, 14 de março de 2017

Síndrome dos 140 caracteres

Ao contrário do que possa parecer, esse post não tem por objetivo criticar o twitter ou o seu uso por essa ou aquela pessoa. Na verdade, estou lançando mão de uma licença poética para, fazendo referência à principal característica do twitter (o limite de 140 caracteres), falar sobre um comportamento que tem se tornado comum no mundo corporativo: a abordagem superficial de ideias, teses e eventos.

Minhas observações acerca do comportamento humano, em especial em ambientes corporativos, têm sugerido que as pessoas de um modo geral parecem ter uma necessidade quase que doentia (daí a ideia de dar o nome de “síndrome’’) de expressar opinião sobre assuntos que não dominam, mesmo quando o contexto exige profundidade. 

Quantos de nós já não nos deparamos com alguma pessoa que, depois de ter lido uma manchete sobre um evento qualquer, adentra pelos corredores e salas como se estivesse apresentando um telejornal, emitindo opiniões e informando detalhes que meia hora depois descobre-se não serem nada além de fruto da imaginação fértil da criatura? Mas até aí tudo bem, pois o prejuízo fica limitado apenas ao tempo perdido com aquela baboseira sem sentido e desnecessária. O problema é quando você está buscando subsídios para tomar uma decisão importante, e vem um cidadão que acabou de ler um ‘’tweet’’ postado por um certo presidente de um certo país americano e bate à sua porta para alertá-lo sobre a eminência da eclosão da terceira guerra mundial, e fornecendo detalhes como se tivesse acabado de sair de uma reunião secreta com o G7.   

À primeira vista pode até parecer hilário e inofensivo, mas na minha opinião é um comportamento bizarro, pois parece ser motivado pelo desejo de exposição constante, logo, tem a ver com ego/necessidade de status. Porém, na prática acaba configurando auto sabotagem, visto que expõe a pessoa a um enorme risco de sua imagem/reputação, pois como já foi dito por Abraham Lincoln: "Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo".

O curioso, para não dizer perigoso, é que esse comportamento parece ser socialmente aceito e raríssimas vezes alguém tem a coragem, para não dizer bondade, de colocar essas pessoas em cheque contestando suas teses ou contrapondo seus argumentos com fatos e dados que estão ao seu alcance. Digo bondade, pois sou de um tempo em que maus hábitos se corrigiam com puxão de orelha, e não com indiferença. Afinal, que tipo de profissionais estaremos ajudando a formar se incentivarmos as pessoas a nossa volta a ficarem apenas na superfície?

2 comentários:

  1. Jorge, perfeito! Temos que promover capacidade de reflexão. Pensar é preciso numa sociedade onde se viver de clichês!

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