Assim
como o renomado estatístico William Deming, autor da célebre frase que tomei
emprestada para o título dessa primeira postagem (que já antecipo, não abordará
aspectos técnicos), também faço parte deste nem tão seleto grupo de
profissionais adeptos do pensamento cartesiano e, portanto, cético quanto
aquilo que não pode ser mensurado. Afinal de contas, o que não é medido não é
gerenciado. Ou pelo menos foi isso o que nos ensinaram na universidade, não é
mesmo?
E
por falar em frases filosóficas e lições aprendidas na universidade, me ocorreu
a lembrança de uma frase que ouvi pela primeira vez nos meus tempos de
universitário, lá nos idos dos anos 90 do século passado: "Na prática a
teoria é outra".
A
primeira vista este bordão soa como piada ou então, na melhor das hipóteses,
como uma boa desculpa para o insucesso de alguma empreitada/decisão que estava respaldada por dados de boa qualidade. Mas acho que
existe algum fundamento nessa frase aparentemente desconexa da realidade, pois quanto
mais eu lanço mão do conhecimento técnico adquirido ao longo destes vinte e
tantos anos de mercado, mais convencido eu fico de que o conhecimento teórico
sem a capacidade de discernir (coisa normalmente adquirida somente com a
prática) é a receita certa para, em algum momento da carreira, darmos com os
burros n'água.
Discernimento
é, na minha opinião, a mais indispensável das competências para aqueles que
almejam sucesso (mais acertos que erros) na gestão contemporânea. E é
sobre isso, a necessidade de buscarmos o aprimoramento da nossa capacidade de
discernir, que eu gostaria de discorrer aqui, pois estou convencido de que essa
é uma das competências cada vez menos exercitadas neste mundo em que toda
informação está a apenas um clique e onde o foco no curto prazo, muitas vezes
exacerbado, acaba por comprometer a qualidade do processo decisório nas
organizações.
Muito
tem se falado que a resiliência é uma das competências mais importantes nos
dias de hoje (e eu concordo que de fato seja), mas pouco tem se falado sobre a
capacidade de discernimento, competência que julgo ser ainda mais importante
que a resiliência, pois até mesmo o exercício da resiliência sem uma boa dose
de discernimento pode não passar de pura perda de tempo.
É
preciso, então, tentar embutir nas pessoas a noção de que os dados devem ser
analisados antes de usados e de que as decisões devem ser contextualizadas
antes de tomadas. E tanto a habilidade analítica quanto a capacidade de
contextualizar são competências desenvolvidas (de verdade) somente com a
prática. Estudos de caso, muito utilizados hoje em dia nas melhores
universidades do mundo, sem dúvida têm o seu valor. No entanto, resolver
problemas (por mais complexos que sejam) apenas no ambiente acadêmico exercita
no máximo as habilidades racionais. Habilidades estas que sempre sofrem
mutações quando requisitadas na vida real onde as emoções, por mais
equilibrados que sejamos, adentram no palco do processo decisório e desempenham
seu papel com extrema desenvoltura. Aqueles que, como eu, vivenciaram o caos da
crise de 2008 e hoje se deparam com os estudos de caso contextualizados
naquela época (que recheiam a grade curricular dos cursos de MBA), sabem bem do
que eu estou falando.
Então,
dados e fatos são realmente indispensáveis para os processos decisórios.
Contudo, não basta ter os melhores e mais bem elaborados dados do mundo se
subestimarmos a importância do bom discernimento, o que pressupõe lançar mão das nossas experiências em sua plenitude (inclusive as
emoções), coisa que o estudo de caso, por mais bem
elaborado que seja, não possibilita a ninguém.
Aos
mais jovens e ávidos profissionais pertencentes a chamada geração Y (famosos
pelo as vezes exagerado senso de urgência), essa minha linha de raciocínio pode
soar como um discurso de alguém incomodado com a concorrência dessa juventude
cada vez mais bem preparada tecnicamente. Mas asseguro não ser esse o caso.
Aliás, muito pelo contrário, pois acredito que a combinação de competências das
gerações que coexistem no ambiente empresarial hoje em dia é na verdade um
grande diferencial competitivo e fator determinante para a longevidade dos
negócios. Afinal de contas, todos hão de convir que a chave para ter sucesso no
processo decisório reside na combinação entre dados bem
elaborados e discernimento para utilizá-los adequadamente, o que inclui saber quando descartar os dados e decidir
intuitivamente.
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