quinta-feira, 2 de julho de 2015

Playing a role as...

No início da minha carreira, portanto já a algum tempo atrás, eu não conseguia compreender porque na língua inglesa usa-se a expressão "interpretando um papel" (playing a role) para descrever o tipo de ocupação que desempenhamos em nossas organizações. Mas para não ficar filosofando e gastando energia para entender algo que não faria a menor diferença na minha vida (pelo menos era o que eu pensava naquela época), eu resolvia a questão assumindo que o uso dessa expressão só podia ser fruto do limitado vocabulário da língua inglesa.
Os anos foram passando, as experiências no mundo corporativo se acumulando e, de vez em quando, lá estava eu, tentando compreender porque raios o uso da tal expressão. E não é que numa bela manhã fagueira a ficha caiu e finalmente entendi o porquê! Mais que isso, não só compreendi o porquê, como passei a concordar em número, gênero e grau com o uso dessa expressão para definir o que de fato somos no mundo corporativo. Atores!
Sim, atores! Pois é isso que fazemos quando desempenhamos nossas funções nas organizações onde trabalhamos. Nós, sem exceção, do acionista ao porteiro, estamos na prática atuando.
Não estou aqui dizendo que no mundo corporativo todos estão apenas "fazendo de conta" e tão pouco insinuando que deveríamos estar. Afinal, depois de vinte e tantos anos de estrada, sei bem que a vida corporativa exige seriedade, empenho e dedicação qualquer que seja o papel a ser desempenhado. 
Me refiro à necessidade de percebermos que estamos performando um papel, separando de forma clara o ator (ser) do personagem (estar). E isso está longe de significar que devemos ser superficiais naquilo que fazemos, pois como todo bom ator sabe, para ter uma boa performance é preciso "vestir o personagem". Muitas vezes se faz necessário inclusive fazer laboratório para podermos mergulhar no universo do personagem. No mundo corporativo, esse laboratório nada mais é do que os infindáveis cursos, workshops e MBAs que fazemos no intuito de melhorar nossa performance ou nos preparar para papéis mais desafiadores (leia-se ascender na carreira). Mas, muito além da quase perfeita analogia entre o mundo das artes cênicas e o mundo corporativo, o que me fez de fato compreender e concordar com o uso dessa expressão para definir como deveria ser nosso comportamento nas organizações, foi o meu despertar para o fato de que se não enxergarmos as coisas dessa forma, estaremos fadados ao fracasso ou ao sofrimento. Fracasso, porque sem a noção de que estamos desempenhando um papel, muitos de nós falharão na tomada de certas decisões devido à falta de coragem para fazê-lo. Sofrimento, porque havendo coragem para a tomada dessas decisões sem a noção de que estamos interpretando um papel, estaremos fadados a tomar para si as dores daqueles afetados por elas.

Sei que no fundo as coisas não são tão simples assim, e separar o ator do personagem nem sempre é tarefa fácil. Principalmente porque a chave para o sucesso está em saber separar o ator do personagem sem, no entanto, largar mão da sensibilidade, sempre fundamental nesses momentos. Meu objetivo com esse post é instigá-lo a pensar sobre essa questão e, se você enxergar coerência nessa minha linha de raciocínio, começar a fazer esse exercício daqui para frente. Obviamente não se trata de uma receita de bolo, como aliás nada no mundo corporativo é, mas minha própria experiência tem mostrado que vale a pena tentar enxergar as coisas sob esse prisma, pois não fosse a adoção desse modelo mental, eu certamente teria falhado ou sofrido com algumas das decisões tomadas até aqui.