segunda-feira, 16 de março de 2015

Por quê é tão difícil dizer "eu não sei"?

Pelo menos no que diz respeito ao acesso à informação, vivemos hoje na era mais estimulante já vivenciada pela humanidade. 
Não faz muito tempo que para adquirir algum conhecimento tínhamos que mergulhar por horas a fio naquelas intermináveis enciclopédias ou passar longas tardes enfurnados nas bibliotecas. 
Hoje, tudo (ou quase tudo) está a um click, Google virou verbo e enciclopédia é palavra desconhecida para a maioria dos que nasceram no final da década de 1990. 
Empolgante, não é mesmo? Seria, não fosse por um efeito colateral desse acesso ilimitado à informação: "a necessidade quase que doentia (se não é) que a maioria das pessoas têm de ter uma resposta para tudo a todo momento". 
A resposta "não sei", parece não fazer mais parte do vocabulário das pessoas. Muitos preferem falar qualquer asneira do que simplesmente dizer "eu não sei". Como se essa frase trouxesse consigo algum fardo ou algum tipo de atestado indesejado.
Sei que isso não é algo novo, e que no mundo corporativo tal comportamento sempre existiu. No entanto, de uns tempos pra cá tenho me espantado com a frequência com a qual ouço frases desconexas e desprovidas de conteúdo vindas da boca de toda sorte de pessoas nas mais diversas organizações.
Por quê então as pessoas agem assim? Por quê muitas vezes preferimos nos submeter ao risco do constrangimento de sermos desmascarados ao invés de simplesmente reconhecer que não sabemos? 
A resposta? Bom, não vou fazer trocadilho respondendo com um sonoro "eu não sei" (risos). Ao invés disso vou brindá-lo com a transcrição de uma crônica do grande pensador brasileiro, Antônio Ermírio de Moraes (ele mesmo, o empresário), e deixar que você elabore sua própria resposta ou siga refletindo sobre o tema, pois meu objetivo com esse post não é encontrar uma resposta, mas gerar reflexão em torno da necessidade de nos mantermos alertas para não cairmos na tentação de querer ter uma resposta pra tudo o tempo todo.

Transcrição da crônica: 
Se você ainda não sabe qual é a sua verdadeira vocação, imagine a seguinte cena: Você está olhando pela janela, não há nada de especial no céu, somente algumas nuvens aqui e ali. Aí chega alguém que também não tem nada para fazer e pergunta: Será que vai chover hoje?
Se você responder "com certeza"… a sua área é Vendas: O pessoal de Vendas é o único que sempre tem certeza de tudo.
Se a resposta for "sei lá, estou pensando em outra coisa"… então a sua aérea é Marketing: O pessoal de Marketing está sempre pensando no que os outros não estão pensando...
Se você responder "sim, há uma boa probabilidade"… você é da área de Engenharia: O pessoal da Engenharia está sempre disposto a transformar o universo em números.
Se a resposta for "depende"… você nasceu para Recursos Humanos: Uma área em que qualquer fato sempre estará na dependência de outros fatos.
Se você responder "ah, a meteorologia diz que não"… você é da área de Contabilidade: O pessoal da Contabilidade sempre confia mais nos dados no que nos próprios olhos.
Se a resposta for "sei lá, mas por via das dúvidas eu trouxe um guarda-chuvas": Então seu lugar é na área Financeira que deve estar sempre bem preparada para qualquer virada de tempo.
Agora, se você responder "não sei"… há uma boa chance que você tenha uma carreira de sucesso e acabe chegando a diretoria da empresa.
De cada 100 pessoas, só uma tem a coragem de responder "não sei" quando não sabe. Os outros 99 sempre acham que precisam ter uma resposta pronta, seja ela qual for, para qualquer situação.
"Não sei" é sempre uma resposta que economiza o tempo de todo mundo e predispõe os envolvidos a conseguir dados mais concretos antes de tomar uma decisão.
Parece simples, mas responder "não sei" é uma das coisas mais difíceis de se aprender na vida corporativa.
Por quê?

Eu sinceramente "não sei", por Antônio Ermírio de Moraes.